PASSADO MODERNO

Final da década de 40. Ponta Grossa começa a se transformar.  Antes uma cidade que girava em torno das linhas férreas, a Princesa dos Campos passa por um acelerado processo de industrialização e urbanização. Telefonia, eletricidade e muitos carros começam a dar as caras pelas ruas. A modernidade chegara ao município, que ostentava uma população de aproximadamente 45 mil habitantes – então, a segunda maior do Paraná.

 

Ansiosa para entrar de cabeça nas mudanças pulsantes, a elite local aposta em uma estratégia de distinção. Os imponentes e pomposos casarões que antes abrigavam as famílias mais poderosas da região se tornaram coisa do passado. Na nova época, a moda é residir em alguns caixotes esquisitos, quase sem ornamentos, sem telhado aparente e com formas futuristas.

 

A tendência, como sempre, tinha origens nas grandes cidades da região sudeste. Desde 1928, com a inauguração da primeira casa modernista em São Paulo, os projetistas dessas metrópoles deixavam de lado as inspirações neo-coloniais do período entre guerras para abraçar a união entre forma e função.    

 

A plasticidade e a beleza não poderiam mais ficar desconectadas do uso cotidiano das construções. Dessa visão artística, nasciam obras caracterizadas por linhas marcantes e estética de impacto. O movimento culminaria na consagração de Oscar Niemeyer como um dos grandes nomes da arquitetura mundial.

           

João Baptista Vilanova Artigas talvez seja menos conhecido que o colega carioca responsável por projetar Brasília, mas também figura entre os maiores. O arquiteto curitibano está intimamente ligado à escola paulista do modernismo, caracterizada pelas linhas retas e por uma impetuosa lógica funcionalista.

 

Um dos fundadores da Faculdade e Arquitetura de Urbanismo (FAU) da USP, Artigas foi perseguido pela ditadura militar na década de 70. Era filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Antes disso, foi ele o responsável por trazer a arquitetura modernista para Ponta Grossa, quando projetou a primeira construção do estilo na cidade, em 1949.

 

A casa, descrita no início da reportagem, foi concebida em uma fase intermediária na carreira do arquiteto. Um ano antes, ele havia elaborado a planta do Cine Teatro Ouro Verde, em Londrina. Três anos depois, desenharia o Estádio do Morumbi, em São Paulo. O magnum opus, entretanto só seria projetado treze anos depois, em 1961: justamente o novo edifício da FAU, que sedia a escola até hoje.

 

Após a casa amarela ter sido erguida na Rua Coronel Dulcídio, diversas construções similares começaram a surgir pela cidade. Muitas delas podem ter um dedo do famoso curitibano: ele era amigo íntimo de Miguel Juliano, outro arquiteto que projetou diversos edifícios na cidade. Às vezes, os dois colegas trabalhavam em colaboração, o que torna difícil especificar a autoria da obra.

 

 Em Ponta Grossa, morar em uma residência modernista era motivo de orgulho e prestígio social, privilégio de “doutores”: médicos, advogados, engenheiros, políticos. Entretanto, conforme a novidade era assimilada, o estilo tornou-se comum também para a classe média. Traços modernistas podem ser encontrados em pequenas residências, espremidas nos terrenos minúsculos do centro, e também em grandes prédios.